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Rafael Bordalo Pinheiro museum, Campo Grande, Lisbon, Portugal
Material: Faience
Collection: Rafael Bordalo Pinheiro Museum
BIOG...
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Rafael Bordalo Pinheiro museum, Campo Grande, Lisbon, Portugal
Material: Faience
Collection: Rafael Bordalo Pinheiro Museum
BIOGRAPHY
Raphael Augusto Bordallo Pinheiro (Lisboa, 21 de março de 1846 — 23 de janeiro de 1905) foi um artista português, de obra vasta dispersa por largas dezenas de livros e publicações, precursor do cartaz artÃÂstico em Portugal, desenhador, aguarelista, ilustrador, decorador, caricaturista polÃÂtico e social, jornalista, ceramista e professor.
O seu nome está intimamente ligado àcaricatura portuguesa, àqual deu um grande impulso, imprimindo-lhe um estilo próprio que a levou a uma qualidade nunca antes atingida. É o autor da representação popular do Zé Povinho, que se veio a tornar num sÃÂmbolo do povo português. Entre seus irmãos estava o pintor Columbano Bordalo Pinheiro.
O Museu Raphael Bordallo Pinheiro, em Lisboa reúne parte significativa da sua obra.
Nascido Rafael Augusto Prostes Bordalo Pinheiro , filho de Manuel Maria Bordallo Pinheiro (1815-1880) e D. Maria Augusta do Ó Carvalho Prostes, em famÃÂlia de artistas, cedo ganhou o gosto pelas artes. Em 1860 inscreveu-se no Conservatório e posteriormente matriculou-se sucessivamente na Academia de Belas Artes (desenho de arquitetura civil, desenho antigo e modelo vivo), no Curso Superior de Letras e na Escola de Arte Dramática, para logo de seguida desistir. Estreou-se no Teatro Garrett embora nunca tenha vindo a fazer carreira como ator.
Em 1863, o pai arranjou-lhe um lugar na Câmara dos Pares, onde acabou por descobrir a sua verdadeira vocação, motivado pelas intrigas polÃÂticas dos bastidores.
Desposou Elvira Ferreira de Almeida em 1866 e no ano seguinte nasceu o seu filho Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro.
Começou por tentar ganhar a vida como artista plástico com composições realistas, apresentando pela primeira vez trabalhos seus em 1868, na exposição promovida pela Sociedade Promotora de Belas-Artes, onde apresentou oito aguarelas inspiradas nos costumes e tipos populares, com preferência pelos campinos de trajes vistosos. Em 1871 recebeu um prémio na Exposição Internacional de Madrid. Paralelamente foi desenvolvendo a sua faceta de caricaturista, ilustrador e decorador.
Em 1875 criou a figura do "ZÉ POVINHO", publicada n'A Lanterna Mágica (1875). Nesse mesmo ano, partiu para o Brasil onde colaborou em alguns jornais e enviava a sua colaboração para Lisboa, voltando a Portugal em 1879, tendo lançado O António Maria (1879-1885;1891-1898). Experimentou trabalhar o barro em 1885 e começou a produção de louça artÃÂstica na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.
Faleceu a 23 de janeiro de 1905 em Lisboa, na Casa do Ferreira das Tabuletas nº 32 da rua da Abegoaria (atual Largo Raphael Bordallo-Pinheiro), onde é agora o Tapas n´Friends Trindade, no Chiado, freguesia do Sacramento, em Lisboa.
Teve funeral católico, no qual participaram várias dezenas de pessoas, incluindo polÃÂticos de destaque. Destacou-se a oração fúnebre do jovem médico António José de Almeida. Segundo José-Augusto França foi esta até então a maior consagração pública prestada a um artista plástico em Portugal.
Bordalo Pinheiro deixou um legado iconográfico verdadeiramente notável,tendo produzido dezenas de litografias. Compôs inúmeros desenhos para almanaques, anúncios e revistas estrangeiras como El Mundo Comico (1873-74), Ilustrated London News, Ilustracion Española y Americana (1873), L'Univers Illustré e El Bazar.
Fez desenhos em álbuns de senhoras, foi o autor de capas e de centenas de ilustrações em livros, e em folhas soltas deixou portraits-charge de diversas personalidades. Começou a fazer caricatura por brincadeira como aconteceu nas paredes dos claustros do edifÃÂcio onde dava aulas o Professor Jaime Moniz, onde apareceram, desenhados a ponta de charuto, as caricaturas dos mestres.
Mas é a partir do êxito alcançado pel'O Dente da Baronesa (1870), folha de propaganda a uma comédia em 3 actos de Teixeira de Vasconcelos, que Bordalo entra definitivamente para a cena do humorismo gráfico. Desenvolveu a sequência narrativa figurada, PRECURSORA DA BANDA DESENHADA, e em 1872 edita o álbum Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador de Rasilb pela Europa, que trata as peripécias do soberano de Rasilb (anagrama de Brasil), em visita pela Europa.
Dotado de um grande sentido de humor mas também de uma crÃÂtica social bastante apurada e sempre em cima do acontecimento, caricaturou todas as personalidades de relevo da polÃÂtica, da Igreja e da cultura da sociedade portuguesa.
Apesar da crÃÂtica demolidora de muitos dos seus desenhos, as suas caracterÃÂsticas pessoais e artÃÂsticas cedo conquistaram a admiração e o respeito público que tiveram expressão notória num grande jantar em sua homenagem realizado na sala do Teatro Nacional D. Maria II, em 6 de Junho de 1903 que, de forma inédita, congregou àmesma mesa praticamente todas as figuras que o artista tinha caricaturado.
Na sua figura mais popular, o "ZÉ POVINHO", conseguiu projectar a imagem do povo português de uma forma simples mas simultaneamente fabulosa, atribuindo um rosto ao paÃÂs. O "ZÉ POVINHO" continua a ser retratado até aos nossos dias e utilizado por diversos caricaturistas para revelar de uma forma humorÃÂstica os podres da sociedade
Foi ele que se fez "ouvir" com as suas caricaturas da queda da monarquia.
Também se atribui ao artista a ilustração referente a Chiquinha Gonzaga na capa de partitura da polca Atraente, primeiro grande sucesso da pianista, compositora e maestrina, em 1877.
Tendo aceitado o convite para chefiar o setor artÃÂstico da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha (1884), aàcriou o segundo momento de renovação da cerâmica Caldense.
Bordallo Pinheiro dedicou-se àprodução de peças de cerâmica que, nas suas mãos, rapidamente, adquiriram um cunho original. Jarras, vasos, bilhas, jarrões, pratos e outras peças demonstram um labor tão frenético e criativo quanto barroco e decorativista, caracterÃÂsticas, aliás, também presentes nos seus trabalhos gráficos.
Mas Bordalo não se restringiu apenas àfabricação de loiça ornamental. Além de ter desenhado uma baixela de prata da qual se destaca um originalÃÂssimo faqueiro que executou para o 3º visconde de S. João da Pesqueira, satisfez dezenas de pequenas e grandes encomendas para a decoração de palacetes: azulejos, painéis, frisos, placas decorativas, floreiras, fontes-lavatório, centros de mesa, bustos, molduras, caixas, e também broches, alfinetes, perfumadores, etc.
No entanto, a cerâmica também não poderia excluir as figuras do seu repertório. A par das esculturas que modelou para as capelas do Buçaco representando cinquenta e duas figuras da Via Sacra, Bordalo apostou sobretudo nas que lhe eram mais gratas: o" ZÉ POVINHO" (que será representado em inúmeras atitudes), a Maria Paciência, a mamuda ama das Caldas, o polÃÂcia, o padre tomando rapé e o sacristão de incensório nas mãos, a par de muitos outros.
Embora financeiramente, a fábrica se ter revelado um fracasso, a genialidade deste trabalho notável teve expressão nos prémios conquistados: uma medalha de ouro na Exposição Colombiana de Madrid em 1892, em Antuérpia (1894), novamente em Madrid (1895), em Paris (1900), e nos Estados Unidos, em St. Louis (1904).
O JORNALISTA
Capa do primeiro jornal de crÃÂtica diário: "A Lanterna Mágica".
Raphael Bordallo-Pinheiro destacou-se sobretudo como um homem de imprensa. Durante cerca de 35 anos (de 1870 a 1905) foi a alma de todos os periódicos que dirigiu quer em Portugal, quer nos três anos que trabalhou em terras brasileiras.
Semanalmente, durante as décadas referidas, os seus periódicos debruçaram-se sobre a sociedade portuguesa nos mais diversos quadrantes, de uma forma sistemática e pertinente.
Em 1870 lançou três publicações: "O Calcanhar de Aquiles", "A Berlinda" e O Binóculo, este último, um semanário de caricaturas sobre espectáculos e literatura, talvez o primeiro jornal, em Portugal, a ser vendido dentro dos teatros.
Seguiu-se o "M J ou a História Tétrica de uma Empresa LÃÂrica", em 1873. Todavia, foi "A Lanterna Mágica", em 1875, que inaugurou a época da actividade regular deste jornalista "sui generis" que, com todo o desembaraço, ao longo da sua actividade, fez surgir e também desaparecer inúmeras publicações. Seduzido pelo Brasil, também aà(de 1875 a 1879) animou "O MOSQUITO", o "PSIT!!!" (1877) e "O BESOURO", tendo tido tanto impacto que, numa obra recente, intitulada "Caricaturistas Brasileiros", Pedro Corrêa do Lago lhe dedica diversas páginas, enfatizando o seu papel.
O "ANTÓNIO MARIA" nas suas duas séries (1879-1885 e 1891-1898), abarcando quinze anos de actividade jornalÃÂstica, constitui a sua publicação de referência. Ainda fruto do seu intenso labor, "PONTOS NOS II" são editados entre 1885-1891 e "A PARÓDIA", o seu último jornal, surge em 1900. Também teve colaboração no semanário Jornal do domingo (1881-1888).
A seu lado, nos periódicos, estiveram Guilherme de Azevedo, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão, João Chagas, Marcelino Mesquita e muitos outros, com contributos de acentuada qualidade literária. Daàque estas publicações constituam um espaço harmonioso em que o material textual e o material icónico se cruzam de uma forma polifónica.
Vivendo numa época caracterizada pela crise económica e polÃÂtica, Raphael enquanto homem de imprensa soube manter uma indiscutÃÂvel independência face aos poderes instituÃÂdos, nunca calando a voz, pautando-se sempre pela isenção de pensamento e praticando o livre exercÃÂcio de opinião. Esta atitude granjeou um apoio público tal que, não obstante as tentativas, a censura nunca logrou silenciá-lo.
E, todas as quintas-feiras, dia habitual da saÃÂda do jornal, o leitor e observador podia contar com os piparotes costumeiros, com uma crÃÂtica a que se juntava o divertimento. Mas como era natural, essa independência e o enfrentar dos poderes instituÃÂdos originaram-lhe alguns problemas como por exemplo o retirar do financiamento d'O António Maria como represália pela crÃÂtica ao partido do seu financiador. Também no Brasil arranjou problemas, onde chegou mesmo a receber um cheque em branco para se calar com a história de um ministro conservador metido com contrabandistas. Quando percebe que a sua vida começa a correr perigo, volta a Portugal, não sem antes deixar uma mensagem:
".... não estamos filiados em nenhum partido; se o estivéssemos, não serÃÂamos decerto conservadores nem liberais. A nossa bandeira é a VERDADE. Não recebemos inspirações de quem quer que seja e se alguém se serve do nosso nome para oferecer serviços, que só prestamos ànossa consciência e ao nosso dever, - esse alguém é um infame impostor que mente." (O Besouro, 1878)
O HOMEM DE TEATRO
Com 14 anos apenas, integrado num grupo de amadores, pisou como actor o palco do teatro Garrett, inscrevendo-se depois na Escola de Arte Dramática que, devido àpressão da parte do pai, acabou por abandonar. Estes inÃÂcios — se revelaram que o talento de Raphael Bordallo-Pinheiro não se direccionava propriamente para a carreira de actor — selaram, porém, uma relação com a arte teatral que não mais abandonou.
Tendo esporadicamente desenhado figurinos e trabalhado em cenários, Raphael Bordallo-Pinheiro foi sobretudo um amante do teatro. Era espectador habitual das peças levadas àcena na capital, frequentava assiduamente os camarins dos artistas, participava nas tertúlias constituÃÂdas por crÃÂticos, dramaturgos e actores. E transpunha, semana a semana, o que via e sentia, graficamente, nos jornais que dirigia. O material iconográfico legado por Raphael Bordallo-Pinheiro adquire, neste contexto, uma importância extrema porque permite perceber muito do que foi o teatro, em Portugal, nessas décadas.
Em centenas de caricaturas, Raphael Bordallo-Pinheiro faz aparecer o espectáculo, do ponto de vista da produção: desenha cenários, revela figurinos, exibe as personagens em acção, comenta prestações e critica 'gaffes'. A par disso, pelo seu lápis passam também as mais variadas reacções do público: as palmas aos sucessos, muitos deles obra de artistas estrangeiros, já que Lisboa fazia parte do circuito internacional das companhias; as pateadas estrondosas quando o público se sentia defraudado; os ecos dos bastidores; as anedotas que circulavam; as bisbilhotices dos camarotes enfim, todo um conjunto de aspectos que têm a ver com a recepção do espectáculo e que ajudam a compreender o que era o teatro e qual o seu papel na Lisboa oitocentista.
SOURCE: Wikipedia, The Free Encyclopedia
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Material: Faience
Collection: Rafael Bordalo Pinheiro Museum
BIOGRAPHY
Raphael Augusto Bordallo Pinheiro (Lisboa, 21 de março de 1846 — 23 de janeiro de 1905) foi um artista português, de obra vasta dispersa por largas dezenas de livros e publicações, precursor do cartaz artÃÂstico em Portugal, desenhador, aguarelista, ilustrador, decorador, caricaturista polÃÂtico e social, jornalista, ceramista e professor.
O seu nome está intimamente ligado àcaricatura portuguesa, àqual deu um grande impulso, imprimindo-lhe um estilo próprio que a levou a uma qualidade nunca antes atingida. É o autor da representação popular do Zé Povinho, que se veio a tornar num sÃÂmbolo do povo português. Entre seus irmãos estava o pintor Columbano Bordalo Pinheiro.
O Museu Raphael Bordallo Pinheiro, em Lisboa reúne parte significativa da sua obra.
Nascido Rafael Augusto Prostes Bordalo Pinheiro , filho de Manuel Maria Bordallo Pinheiro (1815-1880) e D. Maria Augusta do Ó Carvalho Prostes, em famÃÂlia de artistas, cedo ganhou o gosto pelas artes. Em 1860 inscreveu-se no Conservatório e posteriormente matriculou-se sucessivamente na Academia de Belas Artes (desenho de arquitetura civil, desenho antigo e modelo vivo), no Curso Superior de Letras e na Escola de Arte Dramática, para logo de seguida desistir. Estreou-se no Teatro Garrett embora nunca tenha vindo a fazer carreira como ator.
Em 1863, o pai arranjou-lhe um lugar na Câmara dos Pares, onde acabou por descobrir a sua verdadeira vocação, motivado pelas intrigas polÃÂticas dos bastidores.
Desposou Elvira Ferreira de Almeida em 1866 e no ano seguinte nasceu o seu filho Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro.
Começou por tentar ganhar a vida como artista plástico com composições realistas, apresentando pela primeira vez trabalhos seus em 1868, na exposição promovida pela Sociedade Promotora de Belas-Artes, onde apresentou oito aguarelas inspiradas nos costumes e tipos populares, com preferência pelos campinos de trajes vistosos. Em 1871 recebeu um prémio na Exposição Internacional de Madrid. Paralelamente foi desenvolvendo a sua faceta de caricaturista, ilustrador e decorador.
Em 1875 criou a figura do "ZÉ POVINHO", publicada n'A Lanterna Mágica (1875). Nesse mesmo ano, partiu para o Brasil onde colaborou em alguns jornais e enviava a sua colaboração para Lisboa, voltando a Portugal em 1879, tendo lançado O António Maria (1879-1885;1891-1898). Experimentou trabalhar o barro em 1885 e começou a produção de louça artÃÂstica na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.
Faleceu a 23 de janeiro de 1905 em Lisboa, na Casa do Ferreira das Tabuletas nº 32 da rua da Abegoaria (atual Largo Raphael Bordallo-Pinheiro), onde é agora o Tapas n´Friends Trindade, no Chiado, freguesia do Sacramento, em Lisboa.
Teve funeral católico, no qual participaram várias dezenas de pessoas, incluindo polÃÂticos de destaque. Destacou-se a oração fúnebre do jovem médico António José de Almeida. Segundo José-Augusto França foi esta até então a maior consagração pública prestada a um artista plástico em Portugal.
Bordalo Pinheiro deixou um legado iconográfico verdadeiramente notável,tendo produzido dezenas de litografias. Compôs inúmeros desenhos para almanaques, anúncios e revistas estrangeiras como El Mundo Comico (1873-74), Ilustrated London News, Ilustracion Española y Americana (1873), L'Univers Illustré e El Bazar.
Fez desenhos em álbuns de senhoras, foi o autor de capas e de centenas de ilustrações em livros, e em folhas soltas deixou portraits-charge de diversas personalidades. Começou a fazer caricatura por brincadeira como aconteceu nas paredes dos claustros do edifÃÂcio onde dava aulas o Professor Jaime Moniz, onde apareceram, desenhados a ponta de charuto, as caricaturas dos mestres.
Mas é a partir do êxito alcançado pel'O Dente da Baronesa (1870), folha de propaganda a uma comédia em 3 actos de Teixeira de Vasconcelos, que Bordalo entra definitivamente para a cena do humorismo gráfico. Desenvolveu a sequência narrativa figurada, PRECURSORA DA BANDA DESENHADA, e em 1872 edita o álbum Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador de Rasilb pela Europa, que trata as peripécias do soberano de Rasilb (anagrama de Brasil), em visita pela Europa.
Dotado de um grande sentido de humor mas também de uma crÃÂtica social bastante apurada e sempre em cima do acontecimento, caricaturou todas as personalidades de relevo da polÃÂtica, da Igreja e da cultura da sociedade portuguesa.
Apesar da crÃÂtica demolidora de muitos dos seus desenhos, as suas caracterÃÂsticas pessoais e artÃÂsticas cedo conquistaram a admiração e o respeito público que tiveram expressão notória num grande jantar em sua homenagem realizado na sala do Teatro Nacional D. Maria II, em 6 de Junho de 1903 que, de forma inédita, congregou àmesma mesa praticamente todas as figuras que o artista tinha caricaturado.
Na sua figura mais popular, o "ZÉ POVINHO", conseguiu projectar a imagem do povo português de uma forma simples mas simultaneamente fabulosa, atribuindo um rosto ao paÃÂs. O "ZÉ POVINHO" continua a ser retratado até aos nossos dias e utilizado por diversos caricaturistas para revelar de uma forma humorÃÂstica os podres da sociedade
Foi ele que se fez "ouvir" com as suas caricaturas da queda da monarquia.
Também se atribui ao artista a ilustração referente a Chiquinha Gonzaga na capa de partitura da polca Atraente, primeiro grande sucesso da pianista, compositora e maestrina, em 1877.
Tendo aceitado o convite para chefiar o setor artÃÂstico da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha (1884), aàcriou o segundo momento de renovação da cerâmica Caldense.
Bordallo Pinheiro dedicou-se àprodução de peças de cerâmica que, nas suas mãos, rapidamente, adquiriram um cunho original. Jarras, vasos, bilhas, jarrões, pratos e outras peças demonstram um labor tão frenético e criativo quanto barroco e decorativista, caracterÃÂsticas, aliás, também presentes nos seus trabalhos gráficos.
Mas Bordalo não se restringiu apenas àfabricação de loiça ornamental. Além de ter desenhado uma baixela de prata da qual se destaca um originalÃÂssimo faqueiro que executou para o 3º visconde de S. João da Pesqueira, satisfez dezenas de pequenas e grandes encomendas para a decoração de palacetes: azulejos, painéis, frisos, placas decorativas, floreiras, fontes-lavatório, centros de mesa, bustos, molduras, caixas, e também broches, alfinetes, perfumadores, etc.
No entanto, a cerâmica também não poderia excluir as figuras do seu repertório. A par das esculturas que modelou para as capelas do Buçaco representando cinquenta e duas figuras da Via Sacra, Bordalo apostou sobretudo nas que lhe eram mais gratas: o" ZÉ POVINHO" (que será representado em inúmeras atitudes), a Maria Paciência, a mamuda ama das Caldas, o polÃÂcia, o padre tomando rapé e o sacristão de incensório nas mãos, a par de muitos outros.
Embora financeiramente, a fábrica se ter revelado um fracasso, a genialidade deste trabalho notável teve expressão nos prémios conquistados: uma medalha de ouro na Exposição Colombiana de Madrid em 1892, em Antuérpia (1894), novamente em Madrid (1895), em Paris (1900), e nos Estados Unidos, em St. Louis (1904).
O JORNALISTA
Capa do primeiro jornal de crÃÂtica diário: "A Lanterna Mágica".
Raphael Bordallo-Pinheiro destacou-se sobretudo como um homem de imprensa. Durante cerca de 35 anos (de 1870 a 1905) foi a alma de todos os periódicos que dirigiu quer em Portugal, quer nos três anos que trabalhou em terras brasileiras.
Semanalmente, durante as décadas referidas, os seus periódicos debruçaram-se sobre a sociedade portuguesa nos mais diversos quadrantes, de uma forma sistemática e pertinente.
Em 1870 lançou três publicações: "O Calcanhar de Aquiles", "A Berlinda" e O Binóculo, este último, um semanário de caricaturas sobre espectáculos e literatura, talvez o primeiro jornal, em Portugal, a ser vendido dentro dos teatros.
Seguiu-se o "M J ou a História Tétrica de uma Empresa LÃÂrica", em 1873. Todavia, foi "A Lanterna Mágica", em 1875, que inaugurou a época da actividade regular deste jornalista "sui generis" que, com todo o desembaraço, ao longo da sua actividade, fez surgir e também desaparecer inúmeras publicações. Seduzido pelo Brasil, também aà(de 1875 a 1879) animou "O MOSQUITO", o "PSIT!!!" (1877) e "O BESOURO", tendo tido tanto impacto que, numa obra recente, intitulada "Caricaturistas Brasileiros", Pedro Corrêa do Lago lhe dedica diversas páginas, enfatizando o seu papel.
O "ANTÓNIO MARIA" nas suas duas séries (1879-1885 e 1891-1898), abarcando quinze anos de actividade jornalÃÂstica, constitui a sua publicação de referência. Ainda fruto do seu intenso labor, "PONTOS NOS II" são editados entre 1885-1891 e "A PARÓDIA", o seu último jornal, surge em 1900. Também teve colaboração no semanário Jornal do domingo (1881-1888).
A seu lado, nos periódicos, estiveram Guilherme de Azevedo, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão, João Chagas, Marcelino Mesquita e muitos outros, com contributos de acentuada qualidade literária. Daàque estas publicações constituam um espaço harmonioso em que o material textual e o material icónico se cruzam de uma forma polifónica.
Vivendo numa época caracterizada pela crise económica e polÃÂtica, Raphael enquanto homem de imprensa soube manter uma indiscutÃÂvel independência face aos poderes instituÃÂdos, nunca calando a voz, pautando-se sempre pela isenção de pensamento e praticando o livre exercÃÂcio de opinião. Esta atitude granjeou um apoio público tal que, não obstante as tentativas, a censura nunca logrou silenciá-lo.
E, todas as quintas-feiras, dia habitual da saÃÂda do jornal, o leitor e observador podia contar com os piparotes costumeiros, com uma crÃÂtica a que se juntava o divertimento. Mas como era natural, essa independência e o enfrentar dos poderes instituÃÂdos originaram-lhe alguns problemas como por exemplo o retirar do financiamento d'O António Maria como represália pela crÃÂtica ao partido do seu financiador. Também no Brasil arranjou problemas, onde chegou mesmo a receber um cheque em branco para se calar com a história de um ministro conservador metido com contrabandistas. Quando percebe que a sua vida começa a correr perigo, volta a Portugal, não sem antes deixar uma mensagem:
".... não estamos filiados em nenhum partido; se o estivéssemos, não serÃÂamos decerto conservadores nem liberais. A nossa bandeira é a VERDADE. Não recebemos inspirações de quem quer que seja e se alguém se serve do nosso nome para oferecer serviços, que só prestamos ànossa consciência e ao nosso dever, - esse alguém é um infame impostor que mente." (O Besouro, 1878)
O HOMEM DE TEATRO
Com 14 anos apenas, integrado num grupo de amadores, pisou como actor o palco do teatro Garrett, inscrevendo-se depois na Escola de Arte Dramática que, devido àpressão da parte do pai, acabou por abandonar. Estes inÃÂcios — se revelaram que o talento de Raphael Bordallo-Pinheiro não se direccionava propriamente para a carreira de actor — selaram, porém, uma relação com a arte teatral que não mais abandonou.
Tendo esporadicamente desenhado figurinos e trabalhado em cenários, Raphael Bordallo-Pinheiro foi sobretudo um amante do teatro. Era espectador habitual das peças levadas àcena na capital, frequentava assiduamente os camarins dos artistas, participava nas tertúlias constituÃÂdas por crÃÂticos, dramaturgos e actores. E transpunha, semana a semana, o que via e sentia, graficamente, nos jornais que dirigia. O material iconográfico legado por Raphael Bordallo-Pinheiro adquire, neste contexto, uma importância extrema porque permite perceber muito do que foi o teatro, em Portugal, nessas décadas.
Em centenas de caricaturas, Raphael Bordallo-Pinheiro faz aparecer o espectáculo, do ponto de vista da produção: desenha cenários, revela figurinos, exibe as personagens em acção, comenta prestações e critica 'gaffes'. A par disso, pelo seu lápis passam também as mais variadas reacções do público: as palmas aos sucessos, muitos deles obra de artistas estrangeiros, já que Lisboa fazia parte do circuito internacional das companhias; as pateadas estrondosas quando o público se sentia defraudado; os ecos dos bastidores; as anedotas que circulavam; as bisbilhotices dos camarotes enfim, todo um conjunto de aspectos que têm a ver com a recepção do espectáculo e que ajudam a compreender o que era o teatro e qual o seu papel na Lisboa oitocentista.
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